quarta-feira, 22 de julho de 2009

Uma pipa no céu...

  • A vida exige leveza, assim como a viagem.
  • A estrada fica mais bonita quando podemos
  • olhá-la sem o peso de malas nas mãos.
  • Seguir leve é desafio.
  • Há paradas que nos motivam compras,
  • suplementos que julgamos precisar num
  • tempo que ainda não nos pertence,
  • e que nem sabemos se o teremos.
  • Temos a pretensão de preparar o futuro.
  • Eu tenho. Talvez você tenha também.
  • É bom que a gente se ocupe de coisas futuras,
  • mas tenho receio que a ocupação seja demasiada.
  • Temo que na honesta tentativa de me projetar,
  • eu me esqueça de ficar no hoje da vida.
  • Os pesos nascem desta articulação.
  • Coisas do passado,
  • do presente e do futuro.
  • Tudo num tempo só.
  • Há uma cena que me ensina sobre tudo isso.
  • Vejo o menino e sua pipa que não sobe ao céu.
  • Eu o observo de longe. Ele faz de tudo.
  • Mexe na estrutura, diminui o tamanho da rabiola, e nada.
  • O pequeno recorte de papel colorido,
  • preso na estrutura de alguns feixes de bambú
  • retorcidos se recusa a conhecer as alturas.
  • O menino se empenha.
  • Sabe muito bem que uma pipa só tem sentido
  • se for feita para voar.
  • Ele acredita no que ouviu.
  • Alguém o ensinou o que é uma pipa, e para que serve.
  • Ele acredita no que viu.
  • Alguém já empinou uma pipa ao seu lado.
  • O que ele agora precisa é repetir o gesto.
  • Ele tenta, mas a pipa está momentaneamente
  • impossibilitada de cumprir a função que possui.
  • Sem desistir do projeto, o menino continua o seu empenho.
  • Busca soluções. Olha para os amigos que estão ao lado e pede ajuda.
  • Aos poucos eles se juntam e realizam gestos de intervenção...
  • Por fim, ele tenta mais uma vez.
  • O milagre acontece. Obedecendo ao destino dos ventos,
  • a pipa vai se desprendendo das mãos do menino.
  • A linha que até então estava solta vai se esticando.
  • O que antes estava preso ao chão, aos poucos,
  • bem aos poucos, vai ganhando a imensidão do céu.
  • O rosto do menino se desprende no mesmo momento em que a pipa inicia a sua subida.
  • O sorriso nasceu, floresceu leve, sem querer futuro,
  • sem querer passado. Sorriso de querer só o presente.
  • As linhas nas mãos.
  • A pipa no céu...

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