terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Arte de Ser Feliz

  • Houve um tempo em que minha janela se abria
  • sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
  • Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
  • Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
  • e o jardim parecia morto.
  • Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
  • e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
  • Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
  • E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
  • Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
  • Outras vezes encontro nuvens espessas.
  • Avisto crianças que vão para a escola.
  • Pardais que pulam pelo muro.
  • Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
  • Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
  • Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
  • Ás vezes, um galo canta.
  • Às vezes, um avião passa.
  • Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
  • E eu me sinto completamente feliz.
  • Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
  • que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
  • outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
  • finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

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